EBD – CONSERVANDO OS VALORES E GUARDANDO A IDENTIDADE – LIÇÃO 3 JOVENS
INTRODUÇÃO
Desde o início do exílio na Babilônia, os jovens hebreus se depararam com a ameaça de perderem suas identidades, à medida que poderiam gradualmente assimilar os valores da nova terra. Esta lição tem como foco principal o estudo das duas estratégias empregadas pelos babilônios para minar a identidade piedosa dos jovens hebreus: a imersão na cultura e língua caldeia, bem como a mudança de seus nomes. Como veremos, a narrativa bíblica nos oferece valiosas lições sobre conservar nossa identidade espiritual e nossos princípios, especialmente diante da doutrinação ideológica presente atualmente na educação secular.
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I – HEBREUS NA “UNIVERSIDADE” DA BABILÔNIA
1.1. Na universidade da Babilônia
O rei ordenou a Aspenaz, oficial da corte, que os jovens recém-chegados deveriam ser instruídos sobre a cultura e a língua dos caldeus, ao longo de três anos. Não era mera generosidade. Esse método fazia parte da estratégia de Nabucodonosor de incorporar os povos conquistados ao seu serviço real. Concluído o curso de imersão eles também teriam emprego garantido, se aprovados no teste final. Isso parecia uma grande oportunidade para Daniel e seus amigos crescerem acadêmica e profissionalmente no novo mundo. Após terem sido selecionados pelo “vestibular” babilônico, demonstrando conhecimento suficiente, os quatro jovens estavam sendo matriculados na “Universidade da Babilônia”, onde seriam treinados na nova cultura e nos seus costumes. Segundo os padrões da época, o programa de estudos era abrangente, envolvendo todas as letras e sabedoria (v.17). Teriam aulas de matemática, ciência, astronomia, navegação, política, história, geografia e religião, certamente.
Conforme comentamos nas aulas anteriores, era característicos dos impérios da Mesopotâmia a “reciclagem” dos sábios e eruditos dentre os cativos. Daniel e os seus amigos foram contados entre os escolhidos por cumprirem todos os requisitos: “sem nenhum defeito, de boa aparência, sábios, instruídos, versados no conhecimento e competentes para servirem no palácio real” (Dn 1:4).
Entretanto, sabemos que os recém-chegados na Babilônia traziam consigo uma bagagem muito além das roupas; que era a bagagem cultural! Portanto, a prática comum era a realização de uma imersão na cultura dos Caldeus; no idioma, na culinária, nas tradições e costumes. Passado o “período de adaptação”, os selecionados eram apresentados aos principais do reino para uma avaliação final, e então, a depender dos parâmetros obtidos, poderiam ser inseridos nos principais serviços do palácio.
1.2. O ensino caldeu
Os caldeus possuíam um padrão de ensino desenvolvido. Foram pioneiros nos estudos da astronomia e responsáveis pelo avanço da matemática. Eles também dominavam a escrita cuneiforme, usada para registrar leis, negócios e eventos históricos. Por outro lado, o ensino caldeu era impregnado de astrologia e misticismo, formando os seus magos, encantadores e feiticeiros (Dn 2.2). Desse modo, ao serem introduzidos na educação daquele povo, os jovens hebreus estavam adentrando a um mundo totalmente diferente. Corriam o risco de aculturação, isto é, a perda da cultura e das crenças hebraicas, por meio da assimilação e acomodação à cultura dos caldeus. Isso fazia parte do plano de Nabucodonosor. Porém, os jovens traziam em suas mentes e corações os ensinamentos que haviam recebido em Jerusalém. Não recusaram o plano de estudos, pois estavam preparados em termos espirituais, morais e no conhecimento das Escrituras para rejeitarem a doutrinação babilônica.
Os Caldeus eram conhecidos pela valorização da educação formal, de modo que em diversas áreas são reconhecidos como pioneiros. Por exemplo, a civilização babilônica foi a primeira a ter uma legislação escrita, o que ficou conhecido como o “Código de Hamurabi”. Na astronomia, os caldeus elaboraram diversas análises com base nos movimentos do sol, e foram os primeiros a medir o tempo dividido em 12 e 24 partes (que hoje conhecemos com 24 horas), com a utilização sexagesimal (baseado em 60); e assim temos que 1 minuto equivale a 60 segundos, e que 1 hora equivale a 60 minutos. De toda sorte, é notória as suas contribuições no desenvolvimento das civilizações. Ocorre que a educação dos Caldeus era impregnada por um viés místico e idólatra, o que poderia facilmente convencer um jovem que tivesse uma base frágil e vulnerável.
1.3. Discernimento diante da estratégia inimiga
Nabucodonosor era um conquistador violento, mas não era um bárbaro em termos de conhecimento. Ele tinha consciência da importância da formação cultural como estratégia velada de reeducação e ressignificação das ideias na mente dos exilados, especialmente dos jovens. Afinal, o Inimigo é astuto, e procura trabalhar na mentalidade das pessoas desde tenra idade, sem usar métodos violentos, mas pedagógicos. Esse mesmo modo de operação se repete hoje, quando os inimigos de Deus tentam deturpar os valores das crianças, adolescentes e jovens. Assim como Daniel e seus amigos, é preciso ter uma mente protegida pela Palavra do Senhor e um coração sábio (Sl 119.11,12) para aprender o que for útil, e rejeitar todo conhecimento humano que perverte a verdade de Deus.
As palavras selecionadas pelo autor dessa lição traduzem exatamente a estratégia de Nabucodonosor, que era reeducar e ressignificar as ideias e valores dos exilados. De uma maneira muito sutil o viés caldeu era disseminado na educação, para que se tornasse um entendimento comum e natural.
Não diferentemente ocorre em nossos dias, pois o adversário muitas vezes atua na mente das lideranças e os inspira a introduzir na educação base pautas que exponencialmente podem ter um efeito destrutivo na formação do jovem. É necessário o desenvolvimento de discernimento espiritual e humano, para que saibamos aplicar “filtros” sobre os ensinamentos; absorver as boas partes e descartar as partes “contaminadas”.
II – DA RELATIVIZAÇÃO DE VALORES À DESCONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES
2.1. A relativização da verdade
Caso assimilassem o padrão moral da religião dos caldeus, os jovens hebreus estariam a aceitar a relativização da verdade. Afinal, o relativismo pode se propagar tanto pela imposição, quanto pela destruição sutil dos referenciais éticos na cultura. Nos dias atuais, a primeira forma ocorre quando se procura legalizar concepções politicamente corretas, pela proibição de discursos, Limitação do acesso à informação e outros mecanismos que restringem a liberdade de crença e de expressão. Por essa razão, em muitos lugares do mundo, cristãos enfrentam resistência na pregação do Evangelho. Em diversos países, a defesa de convicções e valores morais que decorrem diretamente da fé é considerada crime. O relativismo, por mais antagônico que seja, não tolera a defesa de qualquer
absoluto, nem mesmo na esfera da religião. Na presente Era tudo se dilui e é adaptável, segundo os sociólogos essa época pode ser chamada de “modernidade líquida”.
As estratégias utilizadas para a perversão dos valores são diversas, mas atualmente utiliza-se o termo “pautas progressistas” para uma suposta defesa de “assuntos críticos”, como uma forma de idealizar um “progresso” a partir da aceitação dessas causas, e ao mesmo tempo apontar “o outro lado” como um retrocesso (para eles). Veja que se trata de uma nítida polarização de conceitos; e desse modo, fica mais fácil relativizar algumas ideias (ora, se não quero ser “a pessoa do retrocesso”, então por que não ceder um pouco? Eis que nasce a relativização!).
2.2. Desconstruir identidades
A segunda forma de disseminação do relativismo é sutil. Ela se dá pela desconstrução dos referenciais que levam à perda da identidade. O que é identidade? É aquilo que define e dá significado às nossas vidas. Nós, cristãos, por exemplo, temos uma identidade bíblica, que expressa nossa origem, crenças essenciais e a ética que professamos. Isso nos caracteriza e nos distingue. Foi o caminho da desconstrução que a Babilônia adotou com os jovens hebreus, ao trocar os seus nomes (Dn 1.7). Ao fazer isso, Aspenaz, em consideração ao rei e seus deuses pagãos, intencionava fazer uma Lavagem cerebral em Daniel e seus companheiros.
Já ouviu aquela frase que diz que “não são as respostas que movem o mundo, mas a perguntas”? Pois bem, ocorre que, os progressistas criam perguntas cujas respostas eles mesmos trarão! No entanto, as “respostas” trazidas por eles são verdadeiros sofismas (mentiras contadas sob a forma de uma verdade), e com grande poderes lógicos de argumentação, acabam por persuadir os mais vulneráveis.
Essa tática de fazer o indivíduo “se questionar” (só que pegando-os despreparados) é utilizada desde a antiguidade, e a melhor forma de se defender é desenvolver uma base sólida (coisa que estamos fazendo na EBD, certo?). Daniel e seus amigos não se deixaram contaminar com aquela geração justamente por terem convicções muito bem definidas.
2.3. Novos nomes, a mesma identidade
Naquele tempo os nomes pessoais tinham imenso valor e significado, especialmente para os judeus, que o entendiam como uma expressão da personalidade e do propósito de vida de alguém. Seus nomes foram mudados para que a Babilônia pudesse apagar de seus corações e mentes suas origens. Pretendiam substituir o Deus verdadeiro pelos deuses do paganismo, com o propósito de mudar seus referenciais e identidades. O próprio nome de Nabucodonosor era uma referência às divindades pagãs. Na língua acadiana Nabu-Kudurri-Usur significava “Nabu é o meu protetor”.
Com isso, Daniel que significa “Deus é meu juiz”; deram-lhe o nome Bel- tessazar, “Bel protege o rei”. Hananias “Deus é gracioso”; chamaram-lhe de Sadraque, “Iluminado pelo sol”. Misael significa “Quem é como Deus?”; foi chamado de Mesaque, “Aquele que pertence à deusa Sesaque”. Azarias significa “Deus ajuda”, deram-lhe o nome de Abede-Nego, “Servo do deus Nego”. Embora não pudessem impedir tal mudança, isso não fez a menor diferença em suas vidas. A forma como passaram a ser chamados não entrou em seus corações. Os novos nomes sociais não mudaram suas verdadeiras identidades e muito menos aboliram a centralidade de Deus.
Imagine receber denominações e ser chamado daquilo que você não é! Foi exatamente o tipo de tratamento que Daniel e seus amigos receberam! Imagine Misael ser chamado de “aquele que pertence à deusa Sesaque”! Difícil, não? Lembre-se que eles eram jovens quando foram levados cativos, então talvez a repetição diária dessas afirmações poderiam fazê-los acreditar que sim, que lhes pertenciam aquelas referências. Como diz o ditado popular: “uma mentira contada várias vezes se torna uma verdade”. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam no reino de Deus! A mentira jamais resistirá à Verdade!
Há somente Um que tem as palavras da verdade acerca de quem nós somos, que é o nosso Deus. Não se permita ser questionado pela mentira! Ela não tem poder de te caracterizar, nem de te aconselhar. Todas as palavras da mentiram encaminham para a morte; mas as palavras da Verdade encaminham para a vida!
III – ENSINOS PARA HOJE
3.1. Fidelidade nas escolas e universidades.
O fato de os jovens hebreus terem passado pela faculdade babilônica e saído de lá formados e aprovados com louvor (Dn 1.17-20), mantendo a integridade e fidelidade ao Senhor, tem muito a nos inspirar hoje. Sobretudo, eles souberam proteger seus valores contra o ensino da época. Atualmente, a educação secular encontra-se igualmente carregada de ideologias nocivas, que procuram suplantar a educação clássica e os valores cristãos. Valendo-se de pensadores secularistas, agnósticos, ateus e alinhados a ideologias anticristãs, muitos professores fazem uso de um ensino relativista. Muitos centros educacionais são tocais hostis aos cristãos, em virtude do ambiente e do conteúdo ensinado. Não raro, os crentes são pressionados a abandonar suas “crenças ultrapassadas”, aceitar a “ciência” e deixar as coisas da fé para trás, ou confiná-la ao ambiente privado. Isso decorre do Secularismo. O exemplo de Daniel e seus amigos nos mostra que é possível enfrentar esse ambiente, estando previamente preparados para responder sobre a razão da nossa esperança (1 Pe 3.15).,
Nunca aceite o argumento de que a ciência e a fé são conceitos opostos! Lembre-se que o nosso Deus é também o pai da ciência, pois Dele provém a sabedoria. Não deixe de estudar e de adquirir o conhecimento, mas lembre-se de que o Senhor é a fonte! Ele é o criador, e por Ele todas as coisas foram criadas. Poderia a criatura voltar-se contra o seu criador?
O mundo, no entanto, tenta ridicularizar os ideais cristãos; os taxam de ultrapassados e “cafonas”, com o objetivo de introduzir pouco a pouco o secularismo na mente dos nossos jovens. Não nos esqueçamos que a palavra do nosso Deus se renova a cada dia, pois o nosso Senhor tem o tempo em suas mãos.
3.2. Retendo o que é bom
Nem tudo aquilo que os jovens hebreus aprenderam era negativo e ofensivo à fé em Jeová. Durante os três anos de estudo, como vimos, eles foram instruídos em diversas áreas do conhecimento humano. Grande parte desse conteúdo era importante, pois lhes proporcionava habilidades e competências intelectuais. O próprio registro bíblico enaltece, ao final do período, a aquisição de conhecimento e a inteligência de Daniel em todas as letras e sabedoria (Dn 1.17). Este fato é um forte indicativo de que podemos aproveitar o conhecimento e a sabedoria não tipicamente religiosa, desde que não contrarie a verdade de Deus. Daniel não demonizou toda a cultura da Babilônia e o ensino dos caldeus. Com muita sabedoria, comparou aquilo que os seus professores ensinavam, com o que havia aprendido de seus pais e líderes de Judá. Ele usou um filtro para aproveitar o que era bom e rejeitar o que era nocivo (1 Ts 5.21). De idêntica maneira, o jovem cristão pode, e deve, valorizar o estudo secular, pois além de proporcionar conhecimento, serve para a formação profissional e para o mercado de trabalho, área na qual o crente pode ser usado por Deus e fazer a diferença. O segredo é submeter tudo ao crivo das Sagradas Escrituras (2 Co 10,5; At 17.11).
O ser humano para todas as coisas possui um referencial, e a partir desse referencial estabelecem novas métricas. Por exemplo, como saber se estamos rápido ou devagar em uma rodovia? A partir do referencial de velocidade. Ou como saberemos se em uma comida tem muito ou pouco sal? A partir do referencial de sabor. Ou ainda, como saberemos que um volume de um som está alto ou baixo? A partir de um referencial da audição. Isso se chama parâmetro, e ele nos direciona para as mais corretas definições de métricas.
Agora, gostaria de questioná-los! Qual é o referencial de verdade e mentira para o ser humano? Com quais parâmetros os educadores se baseiam? Com quais parâmetros estamos recepcionando esses conhecimentos? Veja que entender esses conceitos traz robustez ao nosso entendimento acerca dos fatos! Temos que entender que o nosso referencial máximo é e sempre será a palavra de Deus. Então todo o conhecimento adquirido deve passar pelo filtro das escrituras sagradas, porque ela é o nosso parâmetro de verdade (o único).
Somente por ela podemos nos fazer “vulneráveis”, para que ela ministre em nós. Entretanto, a vulnerabilidade jamais deve nos acompanhar no processo de estudo secular. Precisamos estar sempre munidos de um referencial, e adotar um “ceticismo temperado”.
3.3. Mantendo a identidade em tempos pós-modernos
Tal como fez Aspenaz, o mundo procura meios de mudar a identidade do cristão. Em tempos pós-modernos, onde falta firmeza e consistência moral e espiritual, existe uma estratégia diabólica de perda de sentido e significado. O espírito desta época procura seduzir os crentes da desnecessidade de uma identidade própria, dada por Deus, tratando isso como algo ultrapassado. O mundo fala em “abrir” a mente, “flexibilizar” as convicções e “desconstruir” as tradições arcaicas. Em cada área da vida se percebe a estratégia de “mudança de nomes”. A ideologia de gênero procura destruir a identidade sexual o sincretismo busca acabar com a identidade religiosa. O relativismo se propõe a desfazer a identidade moral. Como nunca, a forma de proceder dos jovens hebreus serve como modelo de bravura e resistência aos ímpetos de destruição identitária. Podem até mudar o nosso nome, mas não conseguem mudar quem somos: cristãos. Aqueles que creem e vivem em Cristo (At 11.26).
Uma das principais formas de reconstruir é readquirindo a matéria prima (desconstruir para reconstruir). Um vaso de barro que não ficou perfeito é simplesmente quebrado e refeito. Enquanto esse processo ocorrer nas mãos de Deus – embora doloroso – é algo bom. O problema é quando essa “ressignificação” parte do mundo! A desconstrução das bases morais, para tornar o jovem uma verdadeira mente vazia (matéria prima), é tudo o que eles querem, apara que assim consigam implantar as suas ideias e ideologias.
Não sejamos presas fáceis para os falsos argumentos mundanos! A palavra de Deus é muito enfática quando diz: Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:2).
CONCLUSÃO
Como vimos, as escolhas e determinação de Daniel e seus amigos nos instigam a manter nossa identidade espiritual e nossos princípios, mesmo quando enfrentamos desafios que ameaçam desviar-nos do caminho da verdade. É preciso resistir sabiamente, pois sabemos em quem temos crido (2 Tm 1.12).